No mundo afora teve o nome de psicodelia, no Brasil o
movimento ganhou cores verde-amarelo e tornou-se Tropicália. A década
de 60 foi um período importantíssimo tanto para o cenário político
quanto para o cultural, em específico, a moda. A mulher e mais ainda o
homem viviam amarrados a um bom mocismo desmedido de taiers retilíneos,
tons pastéis e uma cartela de cores nem um pouco ousada.
Para os exemplares do sexo masculino o vestuário se
resumia ao conjuntinho calça, camisa ou terno. Sempre em cores
completamente neutras prevalecendo o preto; os mais ousados pensavam no
cinza. Todos se inspiravam em ícones onde a sobriedade era o principal
sintagma como é o caso de Jackie Kennedy.
O movimento tropicalista trouxe uma série de
elementos à um vestuário sisudo demais. Calças mais folgadas, cores mais
berrantes. Tudo calcado em uma hiponguice ousada e elegante com flores
grandes, cores fortes. Isso pode ser visto com mais contundência em
croquis de Helio Eichbauer, todos deslumbrantes, para a histórica
montagem do “Rei da Vela”, do teatro oficina e também nos vestidos
feitos por Lina Bo Bardi – espécie de parente espiritual de Hélio
Oiticica, artista que muitos dos tropicalistas se inspiraram para fazer
músicas, escrever poemas e se expressar.
Aqui e ali é fácil achar elementos e resquícios desse
modismo. Um exemplo forte é a Melissa Severine, inspirada na doçura e
na forma delicada do morango, criada, ano passado, pela estilista da
marca Thais Losso. Ou mesmo nas inserções da Neon, das jovens Adriana
Barra, Cris Barros, Carol Martins e Helô Rocha. Todas bebem, e muito,
nesse modismo da fauna, flora, favelas, escolas de samba, moleques e
marginais para compor estampas e mesmo o corte de algumas peças. Hoje é
fácil achar batas enormes, blusões femininos mais retos em tecidos
leves, ou monocromismos furtivos – todos são crias, diretas dessa
década.
Como se vê, tropicalismo é hoje um guarda-chuva
enorme e generoso, fonte legítima de inspiração e, também, álibi
condescendente para qualquer “mistura” de níveis de cultura, referências
pop e eruditas, tradição e, vá lá, transgressão.
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